CONSUMO SUSTENTÁVEL: AGENDA 2030 ainda viável?
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CONSUMO SUSTENTÁVEL:
AGENDA 2030 ainda viável?
Como noutra oportunidade houve oportunidade de o afirmar, parece irrealista indagar, em meio à crise reinante, se a AGENDA 2030 para o desenvolvimento sustentável se acha ou não comprometida.
Os rombos que se antevêem na economia global constituem resposta cabal às questões que neste particular se suscitem.
O recurso ao plástico, em múltiplos domínios, como em equipamentos de protecção individual, como que potencia o seu emprego à escala global.
No que ao consumo sustentável se reporta, objectivos marcantes se lhe assinam, a saber,
“o uso de produtos e serviços que satisfaçam necessidades básicas e proporcionem uma melhor qualidade de vida, diminuindo, consequentemente, os recursos naturais e o emprego de materiais tóxicos a geração de resíduos e a emissão de poluentes durante o ciclo de vida do produto ou do serviço de modo a não pôr em risco as necessidades das futuras gerações”.
O emprego do plástico, nestas circunstâncias, em quantidades astronómicas, parece comprometer tais objectivos.
NÚMEROS EXPONENCIAIS
A Coca-Cola produz actualmente, de acordo com suas próprias estimativas, 117 bilhões de garrafas de plástico / ano, números incontáveis que nem sequer se sabe se surpreendem quem quer. As garrafas acabam, em regra, em aterros sanitários, na natureza e a céu aberto.
A Coca-Cola foi responsável por resíduos superiores ao de qualquer outra empresa em acções de recolha global de plástico encetadas em 2018 e 2019 pelo grupo Break Free From Plastic (Liberte-se do Plástico): plástico com o logo Coca-Cola ter-se-á localizado ao longo do litoral e nos parques e ruas das cidades de 40 dos 42 países visados.
Só no primeiro semestre de 2019, a Geórgia exportou 21,6 milhões de Kg. de resíduos plásticos, na sua maior parte para países pobres com pouca capacidade de os gerir, a saber, Índia, Indonésia, Malásia, Paquistão, Senegal, Tailândia, Turquia e Vietname…
COCA-COLA: O MAIOR POLUIDOR DE RESÍDUOS PLÁSTICOS DO MUNDO…
Pelo segundo ano consecutivo, a Coca-Cola foi coroada como o maior poluidor de plástico do mundo, de acordo com uma investigação do movimento Break Free From Plastic (Liberte-se do Plástico), constituído por ONGs, universidades e associações da sociedade civil.
Doze milhões de embalagens de produtos da Coca-Cola detectados em 37 países, o que guindou a gigante do sector de bebidas ao topo da tabela, com 43% do total recolhido.
Atrás da Cola-Cola surgem, sem surpresas, a Nestlé, a Pepsicola, a Mondelez Internacional e a Unilever.
A Cola-Cola também foi a que maior volume de resíduos de plástico gerou na África e na Europa e, a segunda, na Ásia e na América do Sul.
Nos Estados Unidos, o ceptro de principal poluidor é empunhado pela Nestlé, seguida da Solo Cup Company e da Starbucks.
Na Europa, a Heineken ocupa o último lugar do pódio (o terceiro).
A HIPOCRISIA COMO ATITUDE
O seminário EXPRESSO, prestigioso meio de grande difusão, editado em Lisboa, dava a saber, em síntese, em 22 de Janeiro de 2020, pelo punho da jornalista Mafalda Ganhão, que
Eufemisticamente, para a Coca-Cola “o cliente é que manda”...
E se o cliente “continua a exigir” as tradicionais e icónicas garrafas de plástico, não reutilizáveis, como se não ignora, a Coca-Cola satisfá-lo-á em absoluto, persistindo em servi-lhe a bebida preferida, a contento, pois, em tais recipientes.
Eis o que confirmou à BBC a vice-presidente da Coca-Cola para a área de Sustentabilidade e Assuntos Públicos, em Davos, Suíça, em Janeiro próximo passado.
Presente no Fórum Económico Mundial, na Suíça, Bea Perez, vice-presidente da Coca-Cola para a Sustentabilidade (!), explicou a 21 de Janeiro último que a empresa não tem planos para desistir das garrafas de plástico: “os consumidores ainda as querem”. E se as querem, tê-las-ão: “o consumidor é rei e senhor”!
Hipocrisia maior não se vislumbra em afirmações do estilo destas.
E o mundo - por manifesta ausência de educação para o consumo (em que o consumo sustentável assume lugar de primeira plana) - assiste impávido e sereno a tais tiradas e, o que é mais, à sua concretização no terreno sem sequer se permitir erguer um dedo só em jeito de recriminação, de implacável censura social.
Fossem os “consumidores, senhores do mercado”, cônscios do poder que, na realidade, detêm (mas que por inépcia, inabilidade ou inconsciência não exercem…) e (como se diz em português do antigo) … “outro galo cantaria”!